quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Carnaval dos Paulistas

Everaldo Jacques, de São Paulo
Concorrência ou parceria ?
Na última semana estivemos em São Paulo, a locomotiva do Brasil. Antiga e tão atual a definição. A capital dos paulistas é pulsante e pujante às 24 horas do dia. È diferente de todas as cidades existentes no hemisfério sul da América. Não há comparativos ou comparações. Apesar do Rio de Janeiro ser considerado o cartão postal do país, é de São Paulo que são ditadas as regras e as normas do que vai ser importante para o restante da nação. Por isso, é importante viver cada minuto do tempo passado por lá. A cultura está por todos os lados, assim como as marcas de uma sociedade desigual como dos brasileiros. Riqueza e pobreza, apesar de suas grandes diferenças, vivem em uma harmonia absoluta. Em certos momentos, acha-se que se respeitam. Mas são várias as evidencias que não se agüentam. Você percebe isso a cada metro percorrido. Seja nos Jardins, na Liberdade, no Morumbi, ou em Carapicuíba. São Paulo é uma metrópole que não perdoa.Mas que também acolhe. São brasileiros e estrangeiros das mais diferentes origens que se encontram na mais cosmopolita cidade das Américas. São nordestinos e japoneses brigando por um lugar ao sol. Que nem sempre se acha, afinal de contas, a terra da garoa tem que fazer jus ao nome, não é mesmo?
Mas falando em carnaval, São Paulo, assim como em muitos lugares do país, apesar do crescimento da maior festa popular brasileira, se deixou de lado os tradicionais bailes de salão. O que vale mesmo na paulicéia desvairada é a badalação no sambódromo ou nas ruas de São Luiz do Paraitinga. Fechado mesmo, só o camarote da Brahma. Sucesso de VIPs e famosos. Ilustres desconhecidos pagaram até 1.100 reais para estarem no local por algumas horas.
Mas voltando aos bailes como antigamente, pontos tradicionais como clubes como o Sírio Libanês, o São Paulo, a Hebraica, o Pinheiros, deixaram há muito tempo de realizar essas festas. Mas não é que descobrimos, através da amizade com o jornalista gaúcho radicado pelas bandas de São Paulo, Airton Gontoff, um local que ainda mantém acessa essa chama, longe do axé recorrente ou da pagoderia existencial que teima em fazer parte dos interesses dos promotores de eventos. E não que participamos do projeto de reabilitação desse tipo de festa. Foi no tradicional (e não poderia ser diferente) Avenida Club que aconteceu um dos mais animados bailes de Carnaval como Antigamente da capital paulistana. Pelo sexto ano consecutivo, o Avenida realizou o seu já tradicional “Carnaval de Todos os Tempos”. Com a animação da Super Banda Koisa Nossa, muito confete, serpentina e alegria, os foliões dançaram ao som das mais famosas marchinhas, como “O teu cabelo não nega”, “Mamãe eu quero”, “Me dá um dinheiro aí”, “Máscara Negra”, “A Jardineira”, “Bandeira Branca”, “Índio quer apito”, “Linda Morena” e “Chiquita Bacana”. Este ano, foi feita uma grande homenagem a Noel Rosa (1910 a 1937), compositor de músicas inesquecíveis como “Com que roupa?",”As Pastorinhas”, “Conversa de Botequim”, “Palpite Infeliz” e “Pierrot Apaixonado”.
Segundo Ney Meirelles, percussionista e diretor da Super Banda Koisa Nossa, “já era hora de se fazer uma grande homenagem a este compositor que tanto fez pelo samba”. E o momento não poderia ser mais propício. Decorridos 70 anos da morte do sambista, a cultura brasileira recebe um enorme presente: as obras de Noel Rosa acabam de cair em domínio público. Apesar de ter falecido jovem – aos 26 anos de idade – o compositor deixou um acervo de mais de 200 obras, que agora se torna parte do patrimônio coletivo. “Muitas das canções de Noel cabem perfeitamente no Carnaval”, diz Meirelles.
Jovino Garcia, sócio do Avenida Club, conta que a idéia do Carnaval à Moda antiga surgiu em 2003. “As pessoas buscavam um local para se divertir com segurança, ao som das canções que marcaram época. Por isso, a casa lançou um carnaval com músicas de todos os tempos, que fez sucesso já em sua primeira edição e, aos poucos, passou a inspirar outras festas.
Desde 86, o Avenida Club é conhecido como ponto de referência da noite paulistana. Os freqüentadores da casa formam um grupo eclético que transforma o Avenida Club em uma das atmosferas mais agradáveis da noite em São Paulo, além de um reduto da dança na Cidade. O Avenida é freqüentado por anônimos, famosos, formadores de opinião e pode receber até 800 pessoas em uma noite. O salão principal é um espaço dedicado à dança e no palco sempre há uma orquestra, uma banda ou grupo apresentando música ao vivo.
Pois é, na capital que dita as modas e modismos para o país, o Antigamente vem sendo reabilitado. Bem diferente do que aconteceu pela fronteira. Os bailes de carnaval dos clubes de Uruguaiana penaram sem a realização simultânea dos desfiles. Será mesmo que são concorrentes?

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