sexta-feira, 21 de março de 2008

Do editor para o leitor

Da Redação
Na semana passada, o Partido dos Trabalhadores (PT), ao comemorar os quatro anos de implantação do programa Bolsa-Família, sofreu pesada crítica do frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, que foi um dos líderes do malfadado Fome Zero, que chegou a ser apontado como o principal programa social do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante dois anos, Frei Betto foi assessor especial da presidência da República e coordenador de mobilização social para o Fome Zero que, na prática, teve resultado pífio. No final de 2004, o Frei deixou o cargo que ocupava no Governo Federal. Hoje, Frei Betto lamenta que o Bolsa-Família tenha se tornado o carro-chefe dos programas sociais de Lula, em detrimento da implantação de uma "política social emancipatória", conforme definição do religioso petista. O assistencialismo também foi duramente criticado pelo Frei, que vê na burocracia e na falta de reformas estruturais os grandes responsáveis pelos resultados insatisfatórios no campo social. Todavia, enfatiza Betto, que é claro que o governo tem motivos para comemorar, afinal, depois da Previdência Social, o Bolsa-Família é o maior programa de distribuição de renda existente no Brasil. E também a maior usina de votos favoráveis ao governo. Entretanto, que o resgate de uma importante medida do Fome Zero - estabelecer prazo para as famílias se emanciparem do programa - venha a imprimir ao Bolsa Família um caráter mais educativo, de promoção cidadã. Urge que os beneficiários produzam sua própria renda, sem depender do poder público nem correr o risco de retornar à miséria.Opinativo e contestador, Frei Betto indaga: "Onde estão os cursos profissionalizantes? A formação de cooperativas? Os restaurantes populares? Os bancos de alimentos? Os comitês gestores? Por que conceder facilidades de acesso ao crédito se já existia, no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, iniciativas, como o Banco Popular (que fim levou?) nesse sentido? De que adianta distribuir renda a quem aspira que se distribua terra? Como é possível ter êxito no combate à fome sem reforma agrária? Como se explica as famílias pobres terem mais acesso à renda e ao consumo e, ao mesmo tempo, sofrerem a ameaça de dengue e febre amarela? O governo combate, de fato, a miséria, mas não a desigualdade social, pois teme mexer nas estruturas arcaicas do país e desagradar os que se enriquecem graças à injustiça estrutural". Neste contexto, as declarações de Frei Betto contribuem de forma ímpar para o debate, o que é, por si só, já é extremamente salutar.

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